A cada outubro, Belém do Pará se transforma com a maior manifestação religiosa do Brasil: o Círio de Nazaré. Milhões de pessoas tomam as ruas da capital amazônica, mas há um espaço que traduz o espírito da festa: a Varanda de Nazaré, idealizada por Fafá de Belém.
“É uma varanda de amor”, resume Fafá, ao contar como tudo começou, e como segue crescendo, ano após ano, como uma grande família. “As pessoas perguntam, ‘como eu compro ingresso?’. E eu digo, não se vende Varanda de Nazaré. Eu trago pessoas queridas, convido quem admiro. No fim, vira uma irmandade”.
Desde suas primeiras edições, a Varanda não é apenas um camarote para ver a procissão, é um espaço de vivência, reflexão e troca cultural. “Eu fazia questão de trazer jornalistas e artistas. A Varanda é esse ponto de contato, no meio da multidão, onde se vê as caras, a diversidade, a força do povo”.
Ao longo dos anos, a Varanda passou a representar mais do que a fé, passou a ser palco da cultura amazônica. Do tecnobrega à música erudita, passando por rodas de conversa e experiências gastronômicas em ilhas da região, o espaço se tornou uma plataforma de valorização da identidade nortista.
“Levamos as pessoas para uma vivência. Fizemos encontros em ilhas, restaurantes ribeirinhos. É uma mostra transversal da nossa música e da nossa alma”, conta Fafá.
Em 2025, a programação promete. Estarão presentes nomes como a atriz Amanda Gálha e o designer Giovanni Bianco, conhecido por capas da Madonna, Marisa Monte e projetos internacionais. “Ele quer entender que cidade é essa. Que rios são esses? Que vida é essa que se passa dentro da água?”
Mas quem vem de fora não entende. É outra lógica. Uma distância amazônica é uma semana de barco. Por isso, precisamos de verbas diferenciadas, políticas públicas específicas”.
A Varanda escolhe seu povo
Ao longo da conversa, Fafá revela que, por mais que planeje, há algo de intuitivo, quase espiritual, na formação da Varanda. “Eu convido há cinco anos, a pessoa nunca vem. De repente, diz ‘quero ir’ e aparece. Outros, confirmam e somem. A Varanda escolhe seu povo”.
A Varanda também olha para o futuro. Um dos marcos foi a criação da Varandinha, pensada para as crianças. A inspiração veio quando Fafá viu uma árvore morta, uma Samaúma, e sua neta, então com nove anos, quis saber o porquê.
“Fizemos o tema da Samaúma. Porque deixaram ela morrer? Aquilo mexeu comigo”. Com a Varandinha, a tradição se renova. Gerações se encontram, e a cultura segue viva, compartilhada, sem perder suas raízes.
Este ano, Fafá revela que houve planos ousados. Não deu certo, mas novos caminhos surgiram.
“A ideia é conseguir navegar a varanda em outras águas. Levar as pessoas para Santarém, para dentro da floresta, mostrar nosso jeito de viver. Isso é político. Isso é afeto”.


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