Tacacazeiras patrimônio? Iphan pode reconhecer ofício: “É um legado”
Cultura & comportamento Revista CDC

Tacacazeiras patrimônio? Iphan pode reconhecer ofício: “É um legado”

Crédito: Adriano Nascimento/Revista CDC

Foi observando a mãe que a paraense Ivonete Pantoja aprendeu o ofício de tacazeira que exerce há mais de 30 anos. Atual presidente da Associação das Tacacazeiras e Comidas Típicas de Belém (Astacom), a empreendedora de 52 anos celebra com alegria a possibilidade de ter a profissão nacionalmente reconhecida. Na última semana, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) abriu uma consulta pública para que a sociedade possa se manifestar, até o dia 19 de novembro, sobre a proposta de registro do Ofício de Tacacazeira como Patrimônio Cultural do Brasil.

Na prática, é como se a profissão de Ivonete e de outras tantas pessoas fosse oficialmente reconhecida dentro da cultura brasileira, integrando um conjunto de saberes e de práticas que remete à história, à memória e à identidade do nosso povo. “Pra nós, representa muito. O tacacá não é só em Belém, mas em toda a região Norte e no Brasil todo. Hoje em dia, a gente encontra vários tipos de tacacá: pipoca, palmito… Então a gente vem buscando esse reconhecimento como patrimônio e isso vai acontecer”, avalia.

O pedido de registro do Ofício de Tacacazeiras é parte de uma trajetória que começou há 15 anos. Em 2010, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) solicitou a inclusão da iguaria no Livro dos Saberes, dentro de um trabalho mais amplo de documentação dos conhecimentos ligados à mandioca no Pará, tema que já havia sido contemplado no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) em 2006. Em 2024, o processo ganhou novo fôlego com o início da pesquisa e a elaboração do dossiê, conduzidos em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), aproximando ainda mais o reconhecimento do ofício como Patrimônio Cultural do Brasil.

De geração em geração

Para Ivonete, essa história começou há quase 60 anos, quando a matriarca da família abriu uma barraca da comida típica na avenida Nazaré, em frente à famosa loja Mandarim. “É um legado da minha mãe que eu venho mantendo até hoje. Minha mãe é de Mocajuba e veio para Belém para trabalhar. Na casa da minha tia ela apreendeu a fazer a iguaria e montou a barraca. Hoje, nós, os filhos estamos buscando cada vez mais se adequar, aprender sobre isso”, conta.

O segredo para um bom tacacá também foi aprendido entre família. Questionada sobre o que a iguaria precisa para ser realmente saborosa, a tacacazeira responde: “Precisa saber fazer. Depois que me entendi com gente, ela me levou no roçado pra saber como extrair a mandioca e aí aprendemos todo o processo. Duas coisas importantes são tucupi e a goma, que são extraídos da mesma raiz, que é a mandioca”.

Ivonete Pantona mantém vivo o legado da mãe. Crédito: Adriano Nascimento/Revista CDC

“Eu vou tomar um tacacá”

O tacacá já atravessou as fronteiras. Conhecido dos nortistas, o alimento conquistou o Brasil quando Joelma lançou “Voando para o Pará”, música de 2016 que viralizou nas redes sociais há cerca de um ano. O refrão que diz “Eu vou tomar um tacacá / Dançar, curtir, ficar de boa” rapidamente chamou a atenção dos brasileiros que começaram a buscar saber o que era a famosa iguaria. Logo em seguida, a cantora Zaynara também citou o prato na música “Sou do Norte”.

Foi assim que, entre o final de 2023 e o início de 2024, o termo teve um aumento repentino de buscas no Google, segundo o Google Trends. E o impacto foi além do virtual, mas foi sentido pela categoria das tacacazeiras.

“Quando a Joelma lançou essa música e contou um pouco da nossa iguaria, pra nós foi gratificante. A música veio, sim, trazer mais pedidos, mais reconhecimento e mais curiosidade dos turistas. Quando a Zaynara também falou que está no nosso sangue, também está”, comemora.

Como participar?

As manifestações podem ser enviadas por e-mail para conselho.consultivo@iphan.gov.br, por correspondência para o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural no endereço SEPS 702/902, Centro Empresarial Brasília 50, Bloco B, Torre Iphan, 5º Andar, Brasília-DF, CEP 70390-135, ou por meio do Protocolo Digital do Iphan disponível no site oficial do instituto. Após o encerramento do prazo, todas as contribuições recebidas serão analisadas pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão máximo de decisão do Iphan para o reconhecimento de bens culturais brasileiros.

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