Enquanto boa parte do país ainda luta para equilibrar prazos, metas e saúde mental, o Norte do Brasil vai na contramão e se destaca por um motivo inspirador: é a região mais feliz no trabalho. Os dados são da segunda edição do Índice de Felicidade e Engajamento no Trabalho, realizado pela Pluxee em parceria com a plataforma britânica The Happiness Index.
A pesquisa ouviu mais de 16 mil profissionais de todas as regiões e revelou que, apesar de o Brasil ter avançado 4% em relação ao ano anterior, ainda está 6% abaixo da média global. Mesmo assim, o Norte desponta no topo com média de 8,1 pontos, superando Centro-Oeste (7,8), Nordeste (7,7), Sul (7,6) e Sudeste (7,3). O resultado não é casual: por trás dos números, há uma cultura de trabalho mais humana, colaborativa e conectada com o ritmo da vida.
Pertencimento, laços e menos pressa
Para a psicóloga e mestre em Administração Ana Alice de Mello Nunes, consultora organizacional, a explicação para o bom desempenho do Norte começa na cultura local.
“A região valoriza as relações interpessoais, o senso de comunidade e a convivência colaborativa. Predomina uma cultura de solidariedade e pertencimento, o que reflete em ambientes organizacionais mais acolhedores e menos competitivos”, destaca.
Essa mentalidade influencia diretamente a forma como o trabalho é percebido. Com um cotidiano menos acelerado e uma convivência mais próxima, a rotina tende a ser mais equilibrada, e isso se traduz em bem-estar. “O contato mais estreito com a natureza e a menor pressão urbana contribuem para uma percepção de qualidade de vida mais harmoniosa, mesmo diante de desafios econômicos”, acrescenta Nunes.
Natureza como antídoto para o estresse
Um dos fatores que mais pesam para os altos índices de felicidade é a relação com o meio ambiente. No Norte, a proximidade com rios, florestas e espaços abertos reforça um estilo de vida que prioriza o equilíbrio.
“Ambientes com menor pressão urbana e menos deslocamentos entre casa e trabalho ajudam a reduzir o estresse e aumentar a satisfação profissional. Isso estimula a produtividade sustentável e o engajamento, porque o trabalho deixa de ser um fardo e passa a ser parte de um estilo de vida mais harmônico”, explica a especialista.
O estudo também aponta que o bem-estar psicológico está em alta nas empresas brasileiras: as dimensões de crescimento pessoal (+6,3%), reconhecimento (+6,2%) e propósito (+4,2%) tiveram avanços expressivos em 2025. Os pesquisadores associam esse movimento à busca por sentido e evolução contínua, um traço que parece especialmente forte entre os profissionais nortistas.
Gestão humanizada: o diferencial da região
Outro ponto destacado é o modelo de gestão praticado nas organizações do Norte. Segundo Ana Alice de Mello Nunes, a cultura empresarial é menos formal e mais centrada nas pessoas.
“A comunicação empática, o incentivo à cooperação, o respeito às individualidades e a construção de um ambiente de confiança são diferenciais importantes. É uma gestão humanizada, que olha para as pessoas e não apenas para os resultados”.
Essas práticas criam um clima organizacional mais saudável, favorecendo a escuta e o reconhecimento, aspectos diretamente ligados à felicidade e ao engajamento, segundo a pesquisa.
Apesar da liderança no ranking, o Norte enfrenta limitações estruturais, como menor acesso a oportunidades e infraestrutura. Mesmo assim, o sentimento de bem-estar prevalece.
“Fatores subjetivos, como valorização das relações sociais, da espiritualidade e da conexão com o ambiente natural, compensam, em parte, as carências materiais. Isso mostra que a felicidade no trabalho não depende apenas de condições econômicas, mas também de fatores emocionais e culturais”, observa Nunes.
Pandemia e o novo sentido do trabalho
O modelo remoto, popularizado pela pandemia, também parece ter se ajustado bem à realidade nortista. Mesmo com limitações na infraestrutura digital, a flexibilidade trouxe ganhos.
“O trabalho remoto se alinha ao modo de vida mais equilibrado da região, valorizando o tempo em família e a convivência comunitária. Isso reforça a sensação de liberdade e satisfação, elevando os índices de felicidade”, analisa a psicóloga.
O que o resto do Brasil pode aprender
O estudo mostra que a felicidade profissional está diretamente ligada à coerência entre valores e práticas. Para a diretora de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa da Pluxee Brasil, Fabiana Galetol, o desafio das empresas está em transformar discurso em atitude.
“Os resultados mostram evolução, mas ainda há uma lacuna: muitos profissionais não se sentem inspirados por suas organizações. O papel do RH é cultivar reconhecimento genuíno, clareza sobre o futuro e relações de confiança. Quando as pessoas se sentem valorizadas, o trabalho se transforma em fonte de propósito”, afirma.
O exemplo do Norte reforça essa visão. Mais do que altos salários ou benefícios, o que motiva os profissionais é o respeito, o equilíbrio e o senso de pertencimento. E, no fim das contas, talvez essa seja a verdadeira lição da região mais feliz do país: quando o trabalho é vivido em comunidade, ele deixa de ser apenas obrigação, e passa a ser uma extensão da vida.


					
					
					
					
					
					
					
					
																		
																		
																		
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