Em um cenário onde os desafios da docência se entrelaçam com avanços tecnológicos, pressões sociais e políticas públicas muitas vezes frágeis, o historiador Michel Pinho, professor há 27 anos, compartilha, em entrevista ao videocast Chá de Canela, uma visão sensível e profunda sobre o papel do educador no Brasil contemporâneo.
“Alguém vai precisar dizer que a inteligência artificial está errada. Alguém vai precisar dizer que aquilo esteticamente está incorreto”, afirma Pinho, ao defender que, longe de estar sendo substituído, o professor reafirma sua autoridade justamente pelo que a tecnologia não é capaz de oferecer: o olhar humano, o diálogo e o afeto.
Com uma trajetória marcada pela dedicação à sala de aula, interrompida apenas brevemente durante sua gestão como secretário de cultura, Michel destaca que a relação entre professor, aluno e comunidade é construída “olhando, conversando, ouvindo, abraçando”. Ele afirma que, após quase três décadas em sala de aula, suas turmas já formam uma rede familiar: “Fui professor do filho, do sobrinho, da mãe. Já virou uma família, uma herança.”
A entrevista também aborda a crescente violência simbólica e física enfrentada pelos professores. Em meio a casos recentes de agressões, Michel reconhece a complexidade do tema: “As violências estão aí. Acontecem não só com professores. São muitas camadas nesse processo”.
Além de professor, Pinho é um entusiasta da cultura popular e teve uma breve e marcante passagem pela Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel). Ao recordar esse período, ele revela a frustração com os bastidores da política institucional: “Você acredita que pode mudar as coisas com seus ideais. Mas os jogos políticos nem sempre são republicanos”, desabafa.
A fala do historiador é também uma defesa apaixonada do serviço público e da educação como ferramenta de transformação social. “Eu achei que ia ser um professor, ter um cargo público pra falar e desenvolver aquilo que eu amo. Tenho um amor pela sociedade, pelo patrimônio, pela cultura”.
Neste 15 de outubro, Dia do Professor, a entrevista de Michel Pinho é um lembrete de que a docência vai muito além da transmissão de conhecimento. É sobre construir vínculos, resistir, acolher e, acima de tudo, acreditar que o afeto ainda é revolucionário.


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