Mulheres desbravam o mundo com viagens solo
Cultura & comportamento Revista CDC

Mulheres desbravam o mundo com viagens solo

A paraense Izabelle Araújo em viagem por Cuba. Crédito: Arquivo pessoal

Se até poucas décadas atrás uma mulher viajando sozinha pelo mundo causava espanto, hoje em dia esse comportamento se mostra uma tendência cada vez mais atual. Um levantamento da plataforma de viagens Hostelworld indica ainda que 60% das pessoas que viajam sozinhas são mulheres, um dado que reforça o crescimento do turismo solo feito por elas nos últimos anos. 

A expectativa é que a busca por esse estilo de turismo tenha um aumento de 35% até 2030, conforme analisa o relatório Global Travel Insight, da Visa, e publicado pelo Ministério do Turismo. Izabelle Araújo, jornalista e dona da agência Latina Viagens, avalia que esse crescimento é registrado por uma “série de fatores sociais, financeiros e psicológicos que envolvem o universo feminino” e impactam diretamente nas escolhas e comportamentos de consumo.

“Hoje muitas mulheres jovens já não têm mais como meta principal de vida um casamento ou a maternidade. Constroem a sua independência financeira e agora estão buscando por experiências diversas (seja ter a primeira viagem, morar só, se qualificar, etc). O mundo ainda é um terreno perigoso para as mulheres que querem se aventurar sozinhas, mas muitas vezes o perigo está na própria vizinhança ou dentro de casa”, analisa.

Para ela, o incentivo de outras mulheres, assim como o consumo de conteúdos deste tipo nas redes sociais, tem papel fundamental no encorajamento dessa experiência. “Quando mulheres se vêem viajando, seja através de depoimentos das amigas ou da própria internet, isso dá um impulso para quem ainda não teve essa coragem, e assim a rede de mulheres viajantes vai aumentando”, avalia.

Se não agora, quando?

Os jovens estão mais dispostos a desbravar o mundo sem a companhia de familiares e amigos, como uma forma de autoafirmação e busca por autoconhecimento. A 6ª edição da Revista Tendências do Turismo, publicada em 2025 pelo Ministério do Turismo em parceria com a Embratur, indica que o turismo solo está em alta especialmente entre os Millenniais (nascidos entre 1981 e 1996) e Geração Z (entre 1997 e 2012).

“Esse comportamento reflete um impulso de “se não agora, quando?”, que motiva cerca de 69% dos viajantes a planejarem viagens solo, buscando experiências personalizadas e a liberdade de explorar o mundo ao seu próprio ritmo”, diz um trecho da pesquisa.

Apesar da tendência crescente entre pessoas a partir de 44 anos, Izabelle conta que atende mulheres de diferentes idades e contextos em busca deste tipo de experiência. “Já tivemos clientes casadas querendo viajar sozinhas, mulheres maduras divorciadas, e mulheres jovens a partir dos 25 anos. Todas trabalham, têm a sua renda, têm tempo, mas buscam aquele aconselhamento e suporte pra fazer a viagem acontece”, explica.

Izabelle Araújo durante viagem ao Egito. Crédito: Arquivo pessoal.

Sem coragem? Vai com medo mesmo

A primeira viagem desacompanhada, especialmente para uma mulher, costuma vir regada de inseguranças. “Infelizmente, para a mulher, a insegurança não é uma presença somente durante uma viagem, e sim no seu dia a dia. Então não faz sentido a mulher se privar de viajar e ocupar o mundo que também é dela. Com orientações e os mesmos cuidados que você tem no seu dia a dia é possível conhecer o destino dos seus sonhos”, destaca.

Ainda segundo o Hostelworld, 41% dos viajantes solo se preocupam com a segurança, enquanto 37% sentem falta de companhia para momentos especiais. Às vezes, o acaso se encarrega de proporcionar essa experiência.

Foi o que ocorreu com uma paraense que viajaria para Roma com uma amiga, mas que acabou tendo que fazer o percurso sozinha. “Tenho uma cliente que iria fazer uma viagem à Roma com uma amiga, mas dias antes da viagem a amiga adoeceu e ela se viu tendo que fazer a escolha de embarcar sozinha. Com o nosso suporte e incentivo ela foi, mesmo com um pouco de medo”, conta Izabelle. O resultado? Certamente uma das melhores experiências de vida e muita história para contar. “Até hoje ela cita Roma como uma cidade propícia para mulheres que viajam sozinhas com base na sua experiência”, acrescenta.

Viajante nata, Izabelle Araújo também conhece o Peru. Crédito: Arquivo pessoal.

Entretanto, a preocupação com a escolha por um destino que acolha e receba bem uma mulher sozinha sempre é levada em consideração. “É importante que a gente saiba se os fornecedores ao redor do mundo estão preparados para receber mulheres que viajam sozinhas e fazê-las se sentirem confortáveis e seguras. Damos muita importância para a localização da hospedagem, então a maioria das clientes costuma relatar se sentiu segura ao caminhar nos arredores do hotel”, explica a empresária.

Para além da experiência, Izabelle acredita que uma viagem sozinha é capaz de proporcionar conhecimento em diversas áreas. “A mulher aprende a se planejar, priorizar seus gastos, exercita o autoconhecimento (…) e, propriamente, quando a viagem acontece, ela exercita autonomia, vence a timidez pra poder conhecer outras pessoas se ela tiver essa vontade, vivencia a coragem, além de poder conhecer novas culturas, novos idiomas e se adaptar a contratempos que possam aparecer. Creio que toda mulher que viaja sozinha volta como um ser humano muito mais corajoso e sagaz”, finaliza.

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