Brasileiras querem mais democracia e diversidade, com menos religião na política
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Brasileiras querem mais democracia e diversidade, com menos religião na política

Segundo o levantamento, 89% das mulheres preferem candidaturas femininas. Crédito: Brasil Com S

Um levantamento nacional realizado pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc São Paulo, revela que as mulheres brasileiras têm posições políticas cada vez mais claras: defendem a democracia como melhor forma de governo, preferem candidaturas lideradas por mulheres, pessoas negras e indígenas, e rejeitam a interferência da religião nas decisões políticas.

A pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado” foi apresentada neste ano e traz um retrato abrangente da participação e das percepções femininas no Brasil. Trata-se do terceiro estudo nacional realizado pela Fundação, os anteriores foram em 2001 e 2010. A edição atual ouviu 2.440 mulheres e 1.221 homens em sua fase quantitativa, além de ter conduzido grupos qualitativos com 65 mulheres cis e trans ao longo de 2023.

Entre os resultados, 59% das mulheres apontam a democracia como a melhor forma de governo. Apenas 4% se mostraram favoráveis a regimes autoritários, um dado que reforça a centralidade da democracia na visão feminina sobre política.

Na hora do voto, o fator que mais pesa é a representatividade. Segundo o levantamento, 89% das mulheres preferem candidaturas femininas. A tendência aparece também entre os homens, dos quais 72% afirmaram dar preferência a mulheres na disputa eleitoral. Para as eleitoras, a cor da pele também importa: 78% afirmaram optar por candidatos negros e 68% por indígenas. Entre os homens, os índices foram de 71% e 62%, respectivamente.

Diversidade e religião fora da política

A defesa da diversidade se reflete também em pautas concretas: 66% das mulheres entrevistadas disseram votar em candidaturas que apoiem a demarcação de terras indígenas e políticas em favor desses povos. O dado mostra a conexão entre representatividade e compromisso com direitos sociais e ambientais.

Outro ponto forte revelado pela pesquisa é a rejeição à influência religiosa sobre decisões políticas: 71% das mulheres se posicionaram contra essa interferência. Apesar disso, 64% reconhecem que ainda existe preconceito e discriminação contra a participação feminina na política — percepção compartilhada por 55% dos homens.

O peso do machismo e da desigualdade

“As razões para tal discriminação se relacionam a estereótipos de gênero, como os homens acharem que a mulher não tem competência nem capacidade para administrar, o fato de a considerar menos inteligente e inferior, o medo que eles têm de perder seu espaço para ela, efeitos do patriarcado e da produção da misoginia”, afirma a cientista social Sofia Toledo, mestra em Sociologia pela USP e pesquisadora do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (NOPPE) da Fundação Perseu Abramo.

Segundo a especialista, os dados também revelam como a desigualdade se intensificou na última década. “Os números gerais trazidos pelo estudo indicam um acentuamento das desigualdades e do empobrecimento das mulheres na última década. Ainda que tenham avançado em nível de escolaridade, os salários e postos de trabalho não acompanharam o crescimento. A elevação da escolaridade não alcançou toda sociedade, uma vez que houve aumento das pessoas que não sabem ler nem escrever.”

O recorte racial e regional

As mulheres negras e as que vivem no Nordeste aparecem como as mais impactadas pela pobreza. “O empobrecimento atinge sobretudo as mulheres negras – 59% têm renda familiar de até 2 salários mínimos – e aquelas que vivem na região Nordeste, que representam 64% da amostra. Houve um crescimento de 50% das que são assistidas por benefícios e programas sociais, sendo novamente a maioria representada pelo público feminino negro, um dado que informa bem o perfil das mulheres que enfrentam situações de pobreza e vulnerabilidade no Brasil”, explica Sofia Toledo.

O estudo reforça que, apesar dos avanços na escolaridade e na participação política, ainda há barreiras estruturais que limitam o protagonismo feminino. Ao mesmo tempo, indica que as mulheres brasileiras estão cada vez mais conscientes de sua força coletiva e dispostas a defender valores como democracia, diversidade e igualdade de direitos.

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