MANA Festival: a retomada de um evento de protagonismo feminino
Música

MANA Festival: a retomada de um evento de protagonismo feminino

Festival Mana une shows, mostras audiovisuais, feiras criativas, debates e oficinas. Crédito: Divulgação

Maior festival de mulheres da música na Amazônia, o MANA chega à 4ª edição após um jejum de três anos. A programação tem início nesta quarta-feira (24) em Belém, com uma festa de abertura na Cervejaria Cabôca, e segue até sábado (28), no Parque da Residência. O line-up traz mais de 30 atrações, incluindo shows inéditos, mostras audiovisuais, feiras criativas, debates e oficinas. A programação formativa e mais detalhes você confere aqui.

Entre os destaques do line-up estão o show inédito As Amazônias, que reúne Patrícia Bastos (AP), Aíla (PA) e Djuena Tikuna (AM), além de apresentações de Viviane Batidão, Juliana Linhares, Dona Onete, Suraras do Tapajós e DJ Méury. A programação também confirma nomes como Mãeana, Zaynara, Miss Tacacá, a dupla maranhense Célia Sampaio & Núbia, e o projeto DDD91, formado por Aíla, Amanda De Paula, Julia Passos, Naieme, Raidol e Juliana Sinimbú.

A abertura do festival traz shows de LEOA, Grupo de Carimbó Sereia do Mar com Mestra Iolanda do Pilão, além do DJ set de Nat Esquema. A programação inclui ainda uma mostra de artes visuais com escultura digital em cubo de LED e exposição de trabalhos amazônidas, além de feiras gastronômicas e de empreendedorismo feminino.

No sábado (28), a mostra audiovisual terá curadoria de Zienhe Castro, com longas, curtas e videoclipes sobre música, Amazônia e protagonismo feminino. Entre os destaques está Mestras, documentário premiado sobre três mestras da cultura popular do Pará. O tema também será debatido no painel “As Mestras da Música são Mestras da Vida”, com participação de Mestra Iolanda do Pilão, Mestra Bigica, Dona Onete e mediação da jornalista Jalília Messias.

Sobre o MANA

Criado e protagonizado por mulheres, o festival nasceu em Belém em 2017 como um evento pioneiro na Amazônia, incentivando o protagonismo feminino no mercado artístico e fortalecendo artistas mulheres por meio encontros inéditos e debates que instigam a reflexão sobre a contemporaneidade.

O MANA conta com o patrocínio da Petrobras, apresentado pelo Ministério da Cultura, via Lei de Incentivo à Cultura, e Governo Federal. O festival foi um dos 140 contemplados entre mais de 8 mil propostas na Chamada Petrobras Cultural Novos Eixos.

Para falar sobre os desafios da retomada, o impacto do festival e perspectivas de futuro, a Revista CDC conversou com Roberta Brandão, uma das diretoras artísticas e cofundadoras do evento. Confira a entrevista a seguir, na íntegra:

O MANA nasce e se fortalece como um espaço de protagonismo feminino na Amazônia. Na tua visão, o que diferencia essa experiência de outros festivais no Brasil?

O que diferencia o MANA de outros festivais no Brasil é justamente a sua essência amazônica e feminina. Ele nasce não apenas como um palco de apresentações, mas como um território de afirmação e pertencimento, onde as mulheres amazônidas podem ocupar o centro do debate e protagonismo – seja como artistas, produtoras, pensadoras ou lideranças do mercado.

Enquanto muitos festivais se estruturam em torno de grandes nomes ou lógicas de mercado, o MANA se fortalece como uma plataforma política e cultural, que valoriza a diversidade da Amazônia, conecta saberes tradicionais e contemporâneos, e coloca a experiência feminina amazônica como motor de criação e transformação.

Essa singularidade está na forma de tecer redes de cuidado, coletividade e resistência, dando visibilidade a narrativas e corpos historicamente invisibilizados. O MANA não só apresenta arte, mas produz memória, cria espaço de diálogo e inspira novas gerações a verem a Amazônia e as mulheres como protagonistas de seu próprio futuro.

Depois de três anos sem edições, qual foi o maior desafio para retomar o festival em 2025. Algo mudou na concepção do evento nesse retorno?

Um grande desafio, depois de três anos sem edições, é reacender a chama coletiva que sempre sustentou o MANA — reunir novamente artistas, produtoras, parceiras e público em torno de um propósito comum. A pausa trouxe incertezas, mas também tempo para amadurecer ideias e reafirmar o sentido do festival.

Nesse retorno em 2025, o MANA chega com uma concepção ainda mais fortalecida, mais atenta à urgência do presente. A gente entende, cada vez mais, que o festival não é só um espaço de celebração, mas também de cuidado, resistência e visibilidade para as mulheres amazônidas. O hiato nos mostrou a importância de cultivar redes duradouras e de transformar cada edição em um gesto político, poético e afetivo.

O que mudou foi a clareza de que o MANA precisa seguir sendo um espaço de protagonismo, memória e transformação, mas agora com ainda mais consciência de seu papel dentro e fora da Amazônia.

O festival se conecta diretamente com a chegada da COP30 em Belém que, de certa maneira, impactou também outros festivais que não conseguiram o mesmo apoio financeiro de instituições locais. De certa maneira, enxergas que o MANA resiste?

Sim, o MANA resiste, e esse é um gesto muito importante nesse momento. Com a chegada da COP30, vimos grandes festivais de fora desembarcarem em Belém já com patrocínios robustos e narrativas prontas sobre a Amazônia. Enquanto isso, iniciativas locais como o MANA, que nasceram daqui, da vivência e do olhar das mulheres amazônidas, seguem enfrentando mais dificuldades para acessar recursos sim.

Mas a nossa força sempre foi outra: o enraizamento. O MANA não fala “sobre” a Amazônia de fora para dentro; ele fala a partir da Amazônia, com quem a vive, a canta, a cria e a cuida. É por isso que resistir, para nós, significa não abrir mão dessa voz autêntica, mesmo diante de um cenário desigual.

Então, sim, o MANA resiste, e resiste reafirmando que os territórios, corpos e culturas amazônidas não precisam ser traduzidos por olhares externos. Eles têm sua própria potência e querem seguir sendo protagonistas.

O line-up reúne mulheres de diferentes gerações, origens e gêneros musicais. Como vocês visualizam essa diversidade no palco?

A diversidade no line-up é, na verdade, a própria alma do MANA. Quando colocamos no mesmo palco mulheres de diferentes gerações, origens e gêneros musicais, estamos criando um espaço de escuta, encontro e atravessamento de experiências.

Não se trata só de somar estilos distintos, mas de tecer narrativas coletivas: uma artista da nova cena dividindo o palco com uma mestra, uma voz tradicional dialogando com a experimentação contemporânea, a música da floresta ecoando junto com a batida eletrônica urbana. Tudo isso revela que a Amazônia, e as mulheres que a representam, não cabem em um único rótulo. 

Visualizamos essa diversidade como um corpo coletivo em movimento, em que cada artista traz sua história, e juntas elas formam um grande mosaico de memórias, afetos e futuros possíveis. É nesse encontro que o MANA ecoa sua força de origem.

Além da música, a gente percebe que o festival aposta em artes visuais, audiovisual, gastronomia e economia criativa. Como é articular tantas linguagens em um mesmo espaço sem perder a identidade?

O MANA nasceu para ser mais do que um festival de música: ele é um território de expressão. Por isso, quando trazemos artes visuais, audiovisual, gastronomia e economia criativa, não vemos essas linguagens como “anexos”, mas como camadas que se somam à mesma narrativa. A identidade do MANA está enraizada em um eixo muito claro: o protagonismo feminino amazônida na música. A curadoria parte sempre dessa perspectiva. Assim, cada linguagem dialoga com a outra, criando um ambiente de experiência sensorial e política, que mantém um fio condutor comum.

Você fala da importância de transformar o MANA em um evento anual. O que seria necessário para garantir essa continuidade e consolidar Belém como polo da cultura feita por mulheres da Amazônia?

Para que o MANA se torne anual, é preciso criar uma base sólida que vá além do esforço pontual de cada edição. Afinal, o evento é inteiramente gratuito, então isso significa garantir financiamento contínuo, por meio de parcerias institucionais comprometidas com a cultura e com a Amazônia, mas também fortalecer a rede de apoio local, artistas, produtoras, coletivos e público, que já faz o festival acontecer.

Outro ponto essencial é consolidar políticas públicas de cultura que reconheçam o MANA como patrimônio simbólico e estratégico para Belém, especialmente no contexto da COP30 e do olhar internacional voltado para a cidade.

Transformar o festival em um evento anual seria afirmar Belém como um polo de criação e circulação da cultura feita por mulheres amazônidas, dando visibilidade a narrativas que muitas vezes ficam à margem. Para isso, precisamos de investimento consistente, mas também de reconhecimento e pertencimento: que a cidade e a região entendam o MANA como algo seu, que faz parte da sua identidade.

Serviço

Data: 24 a 28 de setembro de 2025

Local: Parque da Residência (Avenida Gov. Magalhães Barata, 830 – São Brás)

Abertura: Cervejaria Cabôca (Boulevard Castilhos França, 550 – Campina)

Inscrições para a programação formativa e outras informações: https://www.instagram.com/manafestival/ 

Leave feedback about this

  • Quality
  • Price
  • Service

PROS

+
Add Field

CONS

+
Add Field
Choose Image
Choose Video