Mais de um século após a chegada do naturalista suíço Emílio Goeldi à Amazônia, seu legado científico e humano continua vivo. Agora, ganha novos contornos com a visita de sua bisneta, a curadora Lani Goeldi, que retorna a Belém para liderar a exposição “O Legado Suíço-Brasileiro na Amazônia – Arte, Ciência e Sustentabilidade”.
A mostra é uma realização conjunta entre a Associação Oswaldo Goeldi, a Embaixada da Suíça e o Museu Emílio Goeldi, com abertura no Museu do Estado do Pará (MEP), e integra também a programação de eventos oficiais da COP 30, que será sediada na capital paraense.
Com mais de 35 anos de atuação entre arte e sustentabilidade, Lani chega com um senso de missão e uma ligação afetiva profunda com a cidade. “Retornar a Belém é como reencontrar minhas raízes. Sempre que piso neste território, sinto o peso simbólico dessa herança. Tenho muito orgulho de ser cidadã belenense”, afirma.
Curadora da mostra, Lani destaca o desafio e a inspiração por trás da concepção da exposição. “Curar esta mostra foi construir uma narrativa entre ciência e poesia visual. Atuamos como uma curadoria interinstitucional entre três grandes instituições, e o desafio foi equilibrar o rigor histórico com uma linguagem contemporânea”, explica.
A exposição percorre o tempo e o espaço, une manuscritos e gravuras do século XIX, diários de pesquisa de Emílio Goeldi e obras de artistas contemporâneos, em uma experiência sensorial e imersiva. “O público poderá vivenciar uma Amazônia sensível por meio de obras, sons e imagens que colocam o visitante dentro da floresta, entre rios, aves e memórias”, antecipa.
Lani Goeldi cresceu cercada por arquivos, ateliês e histórias de campo. “Convivi com meus tios, filhos de Emílio Goeldi. Sei de histórias que nunca foram registradas. Isso me deu um compromisso ético com a verdade e um impulso estético para comunicá-la por meio da arte”, revela. A curadora também destaca o papel simbólico de ser a primeira mulher a dar continuidade ao legado familiar após 65 anos de uma linhagem majoritariamente masculina.
“Meu bisavô defendia a responsabilidade pública do conhecimento. Ele produzia ciência para fortalecer políticas e proteger vidas. Hoje, temos o mesmo desafio, conectar ciência, arte, educação e economia da floresta para gerar engajamento social e soluções sustentáveis de base comunitária”, analisa.
A mostra é também um diálogo intercultural entre Brasil e Suíça. “A Suíça aporta método, precisão e cooperação institucional. O Brasil oferece potência criativa, saberes tradicionais e diversidade. A exposição é esse cruzamento: acervos do século XIX com arte contemporânea, tecnologia com ancestralidade”, explica Lani.
Como gestora de Ponto de Cultura há mais de duas décadas, Lani defende a inclusão da cultura como eixo fundamental das políticas ambientais. “A arte mobiliza o que os relatórios não alcançam: empatia e imaginação. Ela pode catalisar transformações concretas quando conecta públicos e inspira políticas públicas”, afirma.
Para a COP 30, Lani quer contribuir com uma perspectiva sensível e comunitária. “Hoje, há mais colaboração internacional, mais tecnologia e mais protagonismo das comunidades locais. Mas a urgência climática exige velocidade e escala. Precisamos que a cultura, a memória e a economia criativa façam parte desse plano”, conclui.


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