Documentário estreia com críticas a Belém às vésperas da COP: “Ainda luta por saneamento básico”
Revista CDC Vozes da COP 30

Documentário estreia com críticas a Belém às vésperas da COP: “Ainda luta por saneamento básico”

Na próxima quarta-feira, 22 de outubro, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de Belém recebe a pré-estreia do documentário ‘Amazônia Urbana: Belém entre dois mundos’, obra que propõe um olhar sensível e crítico sobre as transformações urbanas da capital paraense diante da preparação para a COP 30, conferência climática da ONU prevista para 2025. O filme será exibido em primeira mão e seguido de um debate com as diretoras e convidados. A entrada é gratuita, com ingressos limitados.

Dirigido pelas paraenses Aída Neto e Aline Paes, o longa-metragem foi o projeto vencedor da 15ª edição do Doc Futura, iniciativa do Canal Futura para incentivar produções independentes com foco em causas sociais. A obra será exibida na programação do canal em novembro.

A produção é guiada pela poética “voz do rio”, elemento simbólico que costura a narrativa e representa tanto a ancestralidade quanto os impactos do processo urbano sobre o meio ambiente. Segundo as diretoras, a ideia do documentário surgiu da urgência de contar a história de uma cidade marcada por desigualdades, mas que agora está sob os holofotes globais.

“Belém vai receber um evento mundial, mas ainda luta por saneamento básico. Precisávamos contar essa história real. Não a Belém das propagandas, mas a cidade do povo que resiste todos os dias”, explica Aída Neto, que desenvolveu a ideia do filme a partir de sua pesquisa de graduação em Ciências Sociais.

O subtítulo “entre dois mundos” revela o contraste entre a cidade que se exibe ao mundo e a que se vive na prática. De um lado, o marketing turístico que enaltece os cartões-postais; de outro, as comunidades marginalizadas, afetadas pelas grandes obras que prometem modernização, mas ignoram a escuta popular.

A parceria com o Canal Futura foi fundamental para dar visibilidade à produção. Crédito: Glauco Melo

“O filme mostra essa dualidade: investimentos altíssimos feitos às pressas para a COP, enquanto comunidades continuam sem infraestrutura básica. A gente quis provocar o público a pensar: desenvolvimento para quem?”, questiona Aline Paes.

Durante as filmagens, as diretoras acompanharam de perto os impactos de projetos como os parques lineares da Doca e da Tamandaré, que, segundo elas, priorizam áreas já visadas pelo poder público, enquanto regiões historicamente negligenciadas permanecem à margem.

Com um processo cuidadoso de escuta e imersão nas comunidades afetadas, Amazônia Urbana destaca vozes que normalmente não são ouvidas nas narrativas institucionais. O filme traz lideranças comunitárias, moradores e agentes culturais que expõem os efeitos das intervenções urbanas em seus cotidianos.

“As pessoas que vivem nas periferias são as primeiras a serem impactadas, mas raramente são ouvidas. Quando chega o asfalto, às vezes o que vem junto é o risco de perder o território, a memória e o modo de vida”, afirma Aída.

Além das diretoras, o debate pós-sessão contará com a presença de Aldrin Figueiredo, diretor do Museu do Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Cléa Carmo, fundadora do projeto Barca Literária; e Camila Magalhães, cofundadora da organização Mandí, que atua nas agendas de saneamento e adaptação climática.

Representatividade e alcance nacional

A parceria com o Canal Futura foi fundamental para dar visibilidade à produção. Segundo Aline Paes, o projeto já existia quando foi adaptado para concorrer ao edital do Doc Futura, que exigia uma ligação com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a COP 30. Após a seleção nacional, as diretoras defenderam presencialmente a proposta no Rio de Janeiro, conquistando a única vaga da categoria longa-metragem.

“Foi nosso primeiro projeto audiovisual e o aprendizado foi imenso. A equipe do Futura foi essencial para que a gente realizasse o documentário da melhor forma. Esperamos que ele chegue a muita gente e gere reflexão”, diz Aline.

Ao olhar para o futuro próximo, as diretoras expressam tanto a esperança quanto o receio em relação à imagem que será projetada de Belém ao mundo durante a COP 30.

“A Belém que queremos mostrar é a que pulsa entre o rio e o asfalto, que resiste com suas comunidades e tenta manter vivas suas tradições, mesmo diante de tantas dificuldades”, reforça Aída.

Quando perguntadas sobre a mensagem central do documentário, ambas concordam que se trata de um filme sobre gente, território e memória.

“É uma visão sobre Belém a partir dos olhos de quem a constrói diariamente: a população periférica”, resume Aline.

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