Aos 50 anos de carreira, Fafá de Belém celebra muito mais do que o tempo dedicado à música. Celebra sua identidade, sua resistência como mulher amazônida e uma trajetória marcada por escolhas firmes, paixão pelas origens e uma entrega à arte. “Eu não queria ser cantora. Para mim era muito estranho. Eu não pensava em ser artista”, relembra. Mas o destino já soprava em outra direção.
Foi ainda na adolescência que a música insistiu em encontrá-la. “Com 16 anos, uma pessoa me encontrou aqui e queria que eu fosse cantora. Levei dois anos até aceitar.” A resistência vinha não só da surpresa, mas do desejo de manter-se fiel às próprias raízes. “Um dia ele me propôs entrar com um grupo X que já existia. Eu disse, só vou com os meus. Quando a gente fala ‘só vou com os meus’, eu vou com tudo que eu sou. Com os meus compositores, com as minhas saias rodadas, andando descalça, com uma flor no cabelo. Foi isso que me sustentou emocional e psicologicamente para não ceder ao canto da sereia”.

A reinvenção, segundo Fafá, é parte do caminho, mas sempre ancorada em sua essência. “Essa sou eu, inteira. Não sei ser de outro jeito”, completa.
A artista vive uma fase de mais uma emoção, a sua própria história vai virar musical. “É inacreditável. Eu estava no Porto, dentro da piscina, quando recebi a ligação do João Batista, presidente da Equatorial. Ele me disse, ‘O Jô Santana vai fazer um musical sobre a tua vida’. Eu falei, ‘Ele tá maluco, né?’”. A surpresa logo se transformou em projeto real. Com direção de Gustavo Gasparani, que já dirigiu os 50 anos de carreira da artista, o espetáculo estreia no Rio de Janeiro no dia 15 de janeiro.
E tem mais, o musical contará com a presença da atriz e cantora paraense Naieme. “Ela é uma menina maravilhosa, uma atriz excelente, cantora bacana e vai atrás do que quer. Ganhou o papel com talento. Não foi à toa”.
A artista, emocionada, resume com clareza o que esse momento representa. “Ver a minha história contada, com verdade, com emoção, com talento, me deixa profundamente tocada. Eu vou chorar litros no dia da estreia. É bonito ver a nossa história enquanto a gente ainda está viva, ativa, reconhecida. Porque essa é a minha história, a história de uma mulher que nunca se rendeu”.


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